Jornadas intermináveis, pouco tempo de férias e bebedeiras obrigatórias com o chefe são parte da cultura empresarial da Coreia do Sul, o que representa um pesadelo para os estrangeiros que trabalham em empresas do país.
'Tenho medo de pedir minhas férias, porque meu chefe pode dizer que não
ou até fazer um escândalo', contou à Agência Efe um engenheiro
espanhol, de 34 anos, que trabalha para uma filial do Grupo Samsung, o
maior conglomerado empresarial da Coreia do Sul.
Da mesma forma que seus companheiros sul-coreanos, o estrangeiro, que
não quis que eu nome fosse revelado, tem 15 dias de férias por ano no
contrato, mas, segundo ele, no país os que tiram todo este período são
mal vistos e ficam com a imagem de desocupado. Por conta disso alguns
chegam a tirar apenas três dias de férias por ano.
Conciliar a vida profissional com a particular é a maior dificuldade
para 36,9 % dos estrangeiros na Coreia do Sul, maior ainda do que
driblar a barreira do idioma (30,7%), segundo um recente levantamento
feito pelo Instituto de Pesquisa da Hyundai.
Os estrangeiros que vivem na Coreia do Sul somam mais de um milhão de
pessoas. Desses, apenas 2,5%, ou 25 mil, são trabalhadores estrangeiros
qualificados empregados nas grandes empresas sul-coreanas de setores
como o de tecnologia e o automotivo.
A pesquisa da Hyundai especifica que muitos destes funcionários
qualificados se consideram vítimas da 'rígida cultura laboral', além de
sofrerem com 'as excessivas horas de trabalho e a estrutura hierárquica
que torna muito difícil expressar opiniões'.
Em apenas 60 anos, a Coreia do Sul conseguiu sair da pobreza extrema -
seu PIB era um dos mais baixos do mundo no final da Guerra da Coreia em
1953 - para se tornar a 13ª maior economia mundial e um grande referente
tecnológico, além de ser o único país que passou de receptor a doador
de ajuda em prol do desenvolvimento.
Com uma superfície de menos de 100 mil quilômetros quadrados e poucos
recursos naturais, os sul-coreanos aliaram o futuro à força de trabalho
de seus habitantes, que conseguiram levantar o país com muito suor,
compromisso e obediência absoluta aos superiores. Assim, no século XXI,
esta cultura ainda está presente.
'Se o seu chefe ainda não foi embora você também não pode ir, mesmo que
já sejam 20h', comentou à Efe um engenheiro mexicano, de 32 anos, que
trabalha para uma das grandes construtoras do país asiático.
Com 50 milhões de habitantes, a Coreia do Sul é o segundo país do mundo
desenvolvido em que os profissionais mais acumulam horas no trabalho,
2.163 anuais, atrás do México em que as pessoas passam 2.237 horas por
ano trabalhando, segundo dados da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O engenheiro mexicano também crítica o que chama de 'extrema
competitividade' entre seus colegas sul-coreanos, ansiosos por agradar o
chefe.
'É preciso tratar o presidente com um respeito altíssimo, embora ele só esteja um cargo acima de você', relatou.
Outra dor de cabeça para alguns, mas fonte de diversão para outros, é o
que se conhece na Coreia do Sul como 'hoesik', uma saída informal
depois do trabalho que costuma acabar em bebedeira coletiva de soju,
bebida destilada feita de arroz.
'Seja segunda, terça ou sexta-feira, se o chefe decide que essa noite
tem 'hoesik' você tem que cancelar todos os seus planos e ir com o resto
da equipe. Não há desculpa que sirva para recursar', garantiu o
engenheiro espanhol da Samsung.
Além disso, na cultura coreana os colegas servem bebida alcoólica uns aos outros e é falta de educação dizer que não aceita.
'A pessoa tem que estar muito atenta ao lugar em que vai se sentar. Se
ficar ao lado de alguém que bebe muito, a bebedeira está garantida ainda
que você não queira', detalhou.
Fonte: Exame
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