domingo, 23 de junho de 2013

O Exército na Coreia do Sul - Parte I: Os Mecanismos do Serviço Militar Coreano




Se você é fã de artistas como Super Junior, TRAX, Rain, já deve ter uma noção sobre o Serviço Militar Coreano. Mas, mais cedo ou mais tarde, todo k-idol, assim como qualquer cidadão coreano, passará por essa experiência. Por isso, é interessante entender como funciona.

Para que o texto não fique muito longo, eu vou dividi-lo em três partes. A parte I vai descrever os mecanismos de realmente servir ao exército coreano com um recruta. A parte II vai descrever a vida dos soldados coreanos no exército. A parte III descreverá o impacto do serviço militar na sociedade coreana.


Os Mecanismos do Serviço Militar Coreano






Com toda essa tensão que nós temos visto entre Coreia do Norte e EUA fica mais fácil entender porque os sul coreanos levam o serviço militar tão a sério. Tecnicamente a Coreia do Sul ainda está em guerra com a do Norte. A Guerra da Coreia terminou com um cessar-fogo, não com um tratado de paz. Portanto, a administração militar na Coreia opera no pressuposto de que haverá outra guerra no nível da Guerra da Coreia, que matou vários milhões de soldados e civis.

Pode-se dizer que a prática militar na Coreia começa no Ensino Médio, onde há uma aula separada para exercícios militares, tipo Educação Física, por exemplo. No entanto, a aula de exercícios militares tornou-se cada vez menos relacionada à guerra nos últimos anos, chegando ao ponto de se concentrar mais na resposta à emergência que nos exercícios em si.

Todos os homens coreanos de idade entre 18 e 37 anos devem prestar o serviço militar obrigatório. A duração do serviço depende de para onde você vai e o que faz, mas costuma ser de 2,5 a 3 anos. Mas há um novo planejamento para encurtar gradativamente o período para 1,5 ano em 2014. Geralmente, os homens coreanos optam por se apresentar para o serviço militar no final do segundo ano da faculdade, de modo que possam voltar para terminar os dois últimos anos. Normalmente, pode-se adiar o alistamento enquanto estiver estudando, até os 24 anos.
 


A questão "onde vai e o que faz" é claramente a mais importante. Obviamente, exército envolve lutar na linha de frente - e a Coreia tem uma longa linha de frente contra a Coreia do Norte. Para determinar a atribuição, todo homem coreano acima de 18 anos deve comparecer à junta de recrutamento local para fazer um exame fisico. O exame categoriza os homens em sete níveis, e as pessoas acima do Nível 5 não têm que prestar o serviço ativo. 
 

Alcançar o Nível 5 ou acima é bastante difícil; tem que ter alguma lesão grave, como um rompimento do LCA (ligamento cruzado anterior, no joelho), dedo indicador amputado, doença mental grave, etc, para se qualificar. No entanto, existem certas questões não relacionadas à saúde que podem desqualificar do serviço, geralmente descritas como "pessoas que criam desarmonia na unidade". Curiosamente, outro grupo que cai nessa categoria são pessoas que têm muitas tatuagens, porque tatuagem é geralmente considerada como associação a uma gangue.
 

Outro grupo de pessoas que são consideradas susceptíveis a criar desarmonia na unidade são coreanos não-étnicos ou coreanos de herança mista. Portanto, cidadãos coreanos naturalizados não teriam que servir. Lembrando que naturalização é quando o cidadão estrangeiro adota a nacionalidade de outro país, no caso, da Coreia. Parece que o cidadão naturalizado pode se voluntariar para o serviço militar, mas não sabemos nada de concreto sobre essa alegação.
 

Os Níveis de 1 a 4 devem se apresentar para o serviço ativo, o que significa que todos eles vão passar por cinco semanas de treinamento básico. Depois do treinamento básico, eles são designados para vários cargos em toda a Coreia. Vamos enumerá-los dos mais difíceis aos mais leves.
 

Ao invés de trabalhar como um soldado comum, os recrutas têm a opção de se voluntariar para tarefas mais difíceis tais como fuzileiros, paraquedistas, forças especiais, polícia militar, etc. Mesmo depois de serem liberados, esses homens tendem a se encher de orgulho (lê-se: não vão parar de falar sobre isso).
 

Há também a infantaria regular, que é a mais numerosa. Vamos descrever essa experiência com mais detalhes na parte II.
 

Mas o exército não se limita em sair para lutar. Certas opções de serviços alternativos, como trabalhar como parte da força policial ou equipe de combate a incêndio, também estão disponíveis. Também há as posições relativamente menos extenuantes, como capelão, médicos, intérpretes, e professores adjuntos nas academias militares. Obviamente, é requirido uma licença profissional para obter tais posições, o que faz com que alguns homens optem por não se alistar no meio da faculdade e escolham entrar para a escola de medicina, por exemplo. Existe até mesmo uma "equipe militar" semi-profissional que atua como parte da liga esportiva para que os atletas continuem suas atividades durante seu serviço.
 

Provavelmente as posições mais leves são as da "indústria da defesa", nas quais os homens elegíveis trabalhem para companhias que contribuem com a defesa nacional pela duração do serviço. O processo de ser qualificado para essas posições - pois é talvez a experiência "militar" menos extenuante fisicamente - é um tanto obscuro. Algumas das companhias que possuem essas vagas disponíveis têm na verdade uma contribuição pouco provável na defesa nacional, como a empresa do Naver (equivalente ao Google coreano) e a KIS Pricing (uma empresa que avalia preços de títulos). As contratações para essas posições são igualmente obscuras, já que essas posições são geralmente preenchidas por filhos de ricos e poderosos.
 

Igualmente leve são as posições de "Agentes de Serviços Públicos", geralmente reservada para pessoas de Nível 4 - aqueles que se qualificaram para o serviço ativo, mas por pouco. Se você for na Coreia, poderá ver esses caras de uniforme verde trabalhando nas estações de metrô ou no escritório do governo local.  Agentes de Serviço Público essencialmente trabalham como um funcionário do governo, e estão sujeitos a serem ridicularizados pela maioria dos outros homens coreanos.
 

Uma espécie de anomalia é KATUSA, a sigla para Korean Augmentation To U.S. Army, uma espécie de ramificação do exército americano formado por soldados coreanos. Recrutas podem se voluntariar para KATUSA se tiverem uma nota alta no teste de inglês. Como geralmente há mais candidatos qualificados do que vagas disponíveis, há um processo de sorteio após o teste. Os recrutas da KATUSA prestam seu serviço nas bases americanas localizadas na Coreia e tem permissão de ir para casa à noite e não comparecer nos fins de semana. O que não acontecesse no exército coreano.


É claro que, além dos recrutas, há os militares de carreira que entram na academia militar ou permanecem depois do serviço obrigatório, como oficial não-comissionado. O ROTC (Corpo de Formação de Oficiais de Reserva) também é uma opção popular, já que pode se alistar como um oficial para prestar seu serviço.
 

Depois do serviço ativo, os homens coreanos são considerados estar prestando um serviço inativo. Por oito anos depois do fim do serviço, os homens devem se apresentar para um treinamento obrigatório de 100 horas por ano. Em caso de guerra, os homens coreanos nesse período de 8 anos estão preparados para lutar. Também em caso de guerra, todo homem coreano entre 18 e 45 anos estão preparados para mobilização de trabalho (pelo que eu entendi, seria uma recolocação, ou seja, eles podem ser convocados para assumir um novo cargo de acordo com a necessidade do momento).



Créditos: Ask an Korean
Traduzido e Adaptado por: Nikki @ Purple Line Fics
POR FAVOR, NÃO RETIRE SEM OS CRÉDITOS

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